Corpo e Dualidade

Padecemos da escravidão que nos impõe o fato de não termos senão um só corpo. O homem civilizado não consegue aceitar os limites constantemente fixados por esta corporalidade exclusiva. A necessidade de desafiar a finitude por ela decretada é constante. A ilusão de superá-la permanente. E no entanto, como já foi dito, ‘a anatomia é o destino’.

O corpo cumpre indefectivelmente sua parábola vital independente de nossos desejos. Ali está quando, na infância, começamos a reconhecê-lo, continua estando ali quando, desgastado e murcho, já não queremos reconhecê-lo nem ele nos reconhecer. O corpo, no entanto, se obstina em nos impor a dura evidência da nossa morte. A crucial simultaneidade entre seu fim e o nosso.”

Fonte: O Dualismo – Estudo sobre o retrato de Dorian Gray. Eduardo Kalina e Santiago Kovadloff. Tradução: Oswaldo Amaral. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.