É sempre difícil de se lidar com o término de um relacionamento. Várias são as questões envolvidas. Raramente as duas pessoas do par têm certeza de que querem se separar, e sentem-se livres e desimpedidas para fazer isso, tranquilamente.
Mesmo que o relacionamento já não esteja indo bem, há algum tempo, em geral, um deles é que traz a questão à tona, seja porque percebe melhor o que está acontecendo, seja porque não consegue mais levar adiante uma relação que lhe parece insustentável. E o outro, pego de surpresa, ou não, fica completamente atordoado, sem saber o que fazer.
O começo de um relacionamento é sempre gostoso. Há muita novidade, alegria, e também, muita paixão encobertando os problemas e defeitos de cada um. Quando terminamos um relacionamento, temos de lidar com o nosso fracasso, pois em última análise, somos sim, em parte, responsáveis pelo desenrolar daquela relação, ainda que não quiséssemos esse final.
Se aquele que pede a separação, ou o término, sofre de um lado porque carrega com ele o peso da responsabilidade pela situação, e muitas vezes é apontado como o causador do “mal”, o outro sofre, também, a seu modo, seja porque ainda gosta do outro, seja porque ainda não consegue encarar que aquela relação acabou.
É sobre quem está nessa segunda situação que aqui quero falar.
Quando somos pegos pelo pedido de separação ou de término do outro, nos fazemos as fatídicas perguntas: Por quê comigo? O que eu fiz de errado? E essas perguntas soam, muitas vezes, como verdadeiras bombas caindo sobre nossas cabeças. Já estamos fragilizados emocionalmente, e ainda temos de arcar com as consequências da separação.
Estávamos acostumados a ter aquela pessoa para dividir nossos assuntos, nossas alegrias e nossas tristezas, e de repente, essa tristeza, especificamente, não podemos mais dividir com ela, porque a outra pessoa é parte e “causa” dessa tristeza. Coloco a palavra “causa” entre aspas, porque não acredito que um outro possa ser causador direto de nenhum mal a alguém, em se tratando de sentimentos e emoções.
Ninguém deixa de gostar de uma pessoa porque quer, nem decide isso do dia para a noite. O “desgostar” de alguém leva um tempo para acontecer. E normalmente temos dificuldade de encarar nossa responsabilidade quando o outro deixa de nos amar. Só ele é o vilão porque não nos ama mais.
O fato é que, se o relacionamento acabou, é melhor para nós se conseguimos encarar essa realidade o quanto antes, para que possamos colocar um ponto final nessa etapa de nossa história e partir para outra. Só que isso também não é tão simples. Primeiro, porque nós também vamos agora ter que ter um tempo para desgostar do outro. Por mais que nosso racional nos mostre que não há a menor chance de o relacionamento continuar a existir, nosso emocional precisa do tempo para elaborar o luto pela perda do ente amado.
E esse processo não é nada fácil. Várias pessoas passam anos sofrendo pelo término de uma relação que se acabou, já, há muito tempo. Mesmo que às vezes se apaixonem por outra pessoa, aquele relacionamento fica como uma marca na vida dela, e a impede, muitas vezes, de seguir em frente ou de viver plenamente um relacionamento com uma nova pessoa.
Esquecer um relacionamento que já acabou envolve várias questões, e aqui vou citar algumas delas que me vêm à lembrança agora.
Primeiramente, existe a questão do quanto idealizamos o outro, colocando nele várias qualidades, que muitas vezes ele não tem, mas, por imaginarmos que tem, fica difícil de abandonarmos o sonho da pessoa perfeita para nós.
Outra questão é a do quanto investimos naquela relação, naquele sonho de amor, e mesmo sabendo que ela não existe mais, não queremos abrir mão depois de tanto investimento. Podemos comparar essa situação com alguém que aplica seu dinheiro na bolsa de valores, sofre uma perda, e mesmo sabendo que já perdeu seu dinheiro, fica tentando manter a mesma posição, esperando que a bolsa volte a subir e que ele recupere o valor investido.
Ainda há também a questão do quanto é difícil, e aqui falo principalmente dos homens, colocar um ponto final no relacionamento. Os homens têm mais dificuldade nesse aspecto, pensam que vão magoar a mulher e temem não conseguir lidar com a decepção que vão causar a elas. Nesses casos, tendem a ficar enrolando, dizem que talvez não seja o momento, ou que estão confusos (e às vezes estão mesmo!).
O fato é que não conseguem dizer aquele NÃO enorme que muitas vezes é necessário para um término de um relacionamento.
E, por último, há aquela questão de que “mulher não ama, mulher cisma”. É claro que mulher ama sim, e muito, mas há muitas mulheres que enquanto acham que estão amando, na verdade, estão é numa cisma danada com aquela pessoa. Sofrem, choram, passam anos relembrando situações que muitas vezes nem aconteceram daquela forma, mas que com nossa capacidade imaginativa, fazem maravilhas, transformando o passado em flores. Nesses casos não há amor, há cisma. Precisamos ter primeiro, o amor verdadeiro por nós mesmas, para depois sabermos amar o outro. Alguém que não está mais sendo amada, e insiste ainda no sonho fracassado, mostra que não está se amando; se não se ama, provavelmente não sabe o que é o amor, e não pode amar um outro.
Enfim, são muitas as implicações que envolvem o término de uma relação. Fica impossível esgotar esse assunto em um só artigo. Mas, espero que essas questões aqui levantadas, possam ajudar as pessoas envolvidas nesse tipo de situação, a refletirem um pouco mais sobre seu comportamento, e que, ampliando a consciência, possam ter seu sofrimento, pelo menos em parte, minimizado.
*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.