Esses dias, por conta de um trabalho que estou realizando, estive conversando com muitas pessoas que se mostraram extremamente descontentes com seus corpos e sua aparência física. Ao contrário do que acontece com pessoas com dismorfia corporal (distúrbio em que a pessoa apresenta distorção de imagem corporal), fui obrigada a concordar que aquelas pessoas não pareciam bem em seus corpos.
Não se tratavam apenas de pessoas com muito ou pouco peso, pessoas obesas, ou mesmo pessoas só “malcuidadas”. O que chamava a atenção em todas elas, é que havia desarmonia em seus corpos e em sua aparência, e essa desarmonia revelava-se ainda mais pungente quando começavam a falar de si.
Fiquei pensando no tamanho desconhecimento de si e no pouquíssimo contato que mantinham com elas mesmas.
Era possível notar que a maioria estava disposta a fazer algo para mudar a situação de insatisfação pessoal. Aliás, todas elas sabiam o que precisava e o que podia ser feito: dietas, exercícios físicos, mudança de hábitos alimentares, cuidados pessoais, um corte de cabelo, uma tintura; enfim, receitas todas elas tinham, mas quando se tratava de colocá-las em prática, transformando o desejo em realidade, o processo não caminhava.
E por que será que isso acontece? Se pararmos para avaliar melhor, veremos que situações semelhantes a essa nos acometem a todo momento. Além de questões em termos de corpo e aparência física, podemos pensar em tantas situações de vida por que passamos, de sonhos que desejamos e não realizamos, objetivos que nos parecem impossíveis de serem alcançados, e então, vamos deixando de lado…
Podemos pensar as mais diversas razões para explicar tal desencontro. Mas há uma questão que considero muito mais simples, e que pode ser de grande valia para refletirmos sobre essas dificuldades.
Pois bem. Voltemos ao corpo.
Nosso corpo físico e a aparência que temos são apenas reflexo de nossa alma e de nosso ser interior. Mesmo com todas as fórmulas e receitas disponíveis em nosso meio, e mesmo com todo o dinheiro do mundo, nenhuma pessoa conseguirá fazer de seu corpo um lugar harmônico se não houver equilíbrio interior, porque o corpo é o espelho para o mundo exterior de tudo o que se passa dentro de nós.
Se em nossa alma as coisas vão bem, se estamos em harmonia com nosso ser, com nossos desejos, sonhos, crenças, e se tudo isso nos faz bem ao coração, então nossa aparência física transmitirá isso. Se não estamos bem interiormente, se nossa alma está sendo deixada em segundo plano, se nossos desejos não estão sendo atendidos, se não nos tratamos com carinho e respeito, então, toda essa desarmonia interior se revelará em nossa aparência.
Muitas pessoas estão tão preocupadas com a imagem que vão passar aos outros, ou com modelos de beleza apregoados aos quatro cantos, que esquecem de olhar para dentro de si.
A questão é que não se trata de ser bonito ou feio, nem de atender a padrões estéticos de nossos tempos modernos, mas de ouvir nossa voz interior, respeitando o ritmo natural de nosso corpo e de nossa alma, reencontrando, assim, o equilíbrio perdido.
Assim, se queremos realizar mudanças em nosso corpo, e daí podermos expandir para tantas outras mudanças que queremos em nossa vida, precisamos desviar a atenção do “externo” e focar naquilo que se passa em nossa alma, entrando em contato com a sabedoria universal e a natureza divina que reside em cada um de nós.
A natureza é perfeita, e nós somos parte dessa natureza; assim, também podemos fazer brotar essa perfeição e essa beleza de dentro de nós e revelá-la ao mundo, seja através de nosso corpo, nossa aparência ou de nossas atitudes e posturas diante da vida.
Na essência de nosso ser encontra-se o segredo para uma vida mais plena. Muitas vezes para chegar até lá, temos de enfrentar caminhos um pouco difíceis e algumas estradas sinuosas e incômodas que fazem parte do processo. Podemos encontrar muita coisa considerada “feia” aos olhos do mundo e de nosso próprio julgamento, situações incômodas que permanecem escondidas e estagnadas dentro de nós, e que, por parecerem impossíveis de se enfrentar vão, aos poucos, silenciosamente, consumindo nossa energia e nossa vitalidade. São com essas questões esquecidas dentro de nós que precisamos nos haver para poder limpar a área e abrir espaço para que novos sonhos e desejos possam se realizar.
Aceitar a si mesmo, integralmente, não só naquilo que é belo, mas em tudo que somos de mais verdadeiro e profundo, incluindo o que pode ser falho e desconfortável, nos ajuda a transformar situações e caminhar em direção a uma vida melhor. Por mais contraditório que possa parecer, é esse processo que nos permite revelar nossa real beleza interior. O resultado quase que automático disso se refletirá em um corpo com uma aparência física mais harmônica e equilibrada, e em uma vida mais plena de sentidos e realizações.
*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.