A importância de correr riscos na vida

Conforme vamos crescendo, amadurecendo e, até mesmo, porque não dizer, envelhecendo, temos a tendência a apresentar mais medos e receios do que quando somos mais jovens. Isso se dá, em parte, porque a experiência que vamos adquirindo pelas situações vividas, nos torna mais cuidadosos conosco e com as pessoas a quem queremos bem, o que é saudável.

Entretanto, algumas vezes, o temor pelas coisas diferentes que possam acontecer, que saiam do controle habitual, pode tomar tal proporção que começa a nos impedir de viver e experenciar novidades que nos trariam outro ânimo. Nesse caso, o medo, impulso que deveria servir para nos proteger, começa a nos engessar. Vemos pessoas que deixam de experimentar muitas coisas na vida pelo medo enorme de sofrerem ou de se sentirem frustradas.

Um bom exemplo disso encontramos nos relacionamentos amorosos da nossa pós-modernidade. As pessoas têm hoje muito mais facilidade de encontrar e conhecer um número cada vez maior de pessoas. Temos a tecnologia a nosso favor: telefone, Internet, sites de encontros amorosos, e chats. Em contrapartida a essa facilidade, vemos a enorme dificuldade que as pessoas têm tido em se relacionar umas com as outras. Os encontros virtuais, esporádicos e superficiais são muitos, mas um verdadeiro encontro amoroso é cada vez mais raro.

Lógico que essa é uma questão complexa que merece muito mais cuidado ao ser tratada por nós, até mesmo nesse curto espaço que temos. No entanto, sem ter a pretensão de explicá-lo por inteiro, podemos pensar que atrás dessa dificuldade de encontros está um medo enorme de se aproximar do outro, descobrir o amor, e sofrer depois com uma eventual perda ou abandono. O que deveria ser a regra, o encontro verdadeiro, vira a exceção. A regra passa a ser o desencontro, o abandono e a perda, dos quais todos querem se livrar. As pessoas passam a se preocupar mais com o “não sofrer”, do que com o “viver” e o “amar”.

Não estamos querendo dizer com isso que pessoas que sofrem dentro de um relacionamento devam ficar fazendo esforços intermináveis para mantê-lo a qualquer preço. É preciso ponderação, principalmente no campo das emoções. Todo relacionamento exige um investimento que não é baixo, mas o seu retorno tem sempre que ser maior. Do contrário, não vale a pena continuar.

Mas o que vemos hoje é que muitas pessoas não chegam nem a entrar de verdade em um relacionamento. Ao menor sinal de frustração e dor, saem correndo dele, como se não tivessem condições psíquicas de suportar o processo de um encontro verdadeiro, que não deixa de passar por muitos pequenos desencontros no meio do caminho. Quando conhecemos uma nova pessoa, não só entramos em contato com o diferente universo emocional do outro, mas também descobrimos um outro universo emocional em nós mesmos. Pessoas diferentes despertam emoções e questões diferentes em cada um de nós, e por isso é tão importante nos relacionarmos para conhecer melhor a nós mesmos. É o autoconhecimento que faz com que tenhamos uma vida mais realizada em todos os sentidos, principalmente, uma vida amorosa mais plena.

É preciso um pouco mais de coragem e menos temores para viver. Não há como viver de modo mais intenso sem correr os riscos necessários. Ficar engessado em velhos medos não nos ajuda em nada. O exercício de novas experiências é que pode nos mostrar como a vida pode ser vivida, com muito mais qualidade, e o quanto grande parte desses temores não se confirmam na realidade. E mesmo quando esses medos se mostram reais, podemos ver que a situação não nos derruba, mas, ao contrário, nos faz mais fortes e maduros. Nesse campo da vida, assim como em todos os outros, vale a máxima que diz: “quem não arrisca não petisca”.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.