Nesses tempos de hoje, com a medicina estética tão avançada, com técnicas novas e materiais mais preparados, a cirurgia plástica tem feito muito sucesso entre homens e mulheres preocupados com a beleza, o bem-estar e a imagem.
Chegando perto do verão onde os corpos estão mais à mostra, cresce a procura por esse tipo de procedimento. Pode ser uma barriguinha para ser diminuída, mamas que precisam ser reposicionadas, rugas para serem eliminadas, gorduras localizadas, etc. Normalmente as intervenções são mais estéticas do que ligadas a problemas de saúde, embora existam casos em que o procedimento é indicado pelas duas razões.
Os motivos que levam uma pessoa a buscar alguma correção estética podem ser os mais variados e normalmente há, aliadas às razões aparentes e físicas, motivações subjetivas impulsionando a procura pela cirurgia plástica.
A questão é que muitos acreditam que a cirurgia irá mudar suas vidas. Pensamentos do tipo: “assim que eliminar essa barriga serei feliz”, ou “assim que colocar silicone nos seios serei outra mulher”, são recorrentes entre as pessoas que buscam esse tipo de procedimento. Colocam na cirurgia plástica a responsabilidade pela transformação em suas vidas e pelo encontro com a felicidade tão almejada.
Nesses casos é comum aparecer uma frustração enorme após a cirurgia, posto que a mudança tão esperada não acontece. Houve uma intervenção perfeita do ponto de vista médico, mas que nada mudou além do físico. Pessoas que fazem, por exemplo, uma cirurgia de reposicionamento das mamas ou de diminuição do volume podem continuar a agir, após a cirurgia, como se ainda estivessem na forma antiga, curvando os ombros para frente na tentativa de “esconder” os seios flácidos ou volumosos. O que se percebe nesses casos é que se operou uma mudança do ponto de vista físico, mas não do ponto de vista psíquico. O corpo mudou, mas o psiquismo não acompanhou. A imagem que se tem de si não é alterada porque não integra a nova forma corporal.
Toda mudança por mais necessária e bem-vinda que seja, precisa ser trabalhada interiormente para que surta o máximo do efeito esperado. Avaliar as reais motivações para a cirurgia, as expectativas, os resultados esperados, tudo isso é importante como parte do processo de transformação.
Por mais que uma mudança física possa promover um aumento de autoestima e do bem-estar pessoal, é importante que se faça essa avaliação para se tenha consciência de que o processo de transformação físico é um, e o processo de mudança psíquico é outro. Eles podem andar lado a lado, e melhor seria que assim se desse com todos os pacientes, o que nem sempre é possível.
Muitos estão inconscientes de suas próprias emoções, e buscam avidamente uma transformação que se dê de fora para dentro e os livre do contato com angústias e motivações subjetivas. Aliás, é comum vermos pessoas buscando transformações físicas quando, na verdade, precisam e até desejam fazer toda uma mudança de vida. Entretanto como não querem se comprometer emocionalmente com isso, acabam preferindo colocar na cirurgia a responsabilidade por uma vida melhor. Como aquela pessoa que acha que mudando de cidade, de país ou de emprego, irá se livrar, por exemplo, dos problemas que enfrenta atualmente nesses lugares. De novo se verá apenas uma mudança geográfica que, se não for acompanhada de uma proposta de reformulação interior, poderá até trazer algum alívio temporário, mas não trará efeito algum permanente.
Assim, por mais desejada e esperada que possa ser uma cirurgia plástica é preciso se questionar se é esse mesmo o caminho que levará a conquista do objetivo almejado. Entender as emoções que estão em jogo na busca por um corpo melhor ou “perfeito” pode ajudar a pessoa a se conhecer melhor, aceitar suas limitações e evitar procedimentos cirúrgicos desnecessários, ou ainda, fazer com que as intervenções que se mostrem necessárias, desejadas e possíveis de serem feitas, possam ser integradas harmoniosamente ao todo daquela pessoa, trazendo o efeito tão esperado ou chegando o mais próximo disso.
A garantia que se tem é de que, lidando com a realidade dos fatos e a própria realidade emocional, evitam-se mais frustrações ao final do processo, e a satisfação, tanto com o próprio corpo como com os efeitos da cirurgia, poderá ser sempre maior.
*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.