Quem vive nas profundezas do seu ser
Nada sabe de virtuosidade.
Dele brotam espontaneamente
As íntimas forças da vida.
Quem vive na superfície de seu agir
Não pode fazer brotar as forças profundas.
Quem vive nos abismos da sua alma
Ignora a moralidade do seu agir.
Desconhece o que seja ego-agência.
Quem vive na superfície da sua alma
Age egoicamente, visando fins externos.
O amor impele ao agir,
Mas não quer nada para si.
A justiça impele ao agir
Mas não age por ambição.
A moral também impele ao agir
E, se não consegue o que quer
Recorre à violência.
Por isto, ó homem, reconhece:
Quem não tem a visão do Tao
Age por virtuosidade.
Quem não tem virtuosidade
Age pela caridade.
Quem nem disto é capaz,
Obedece a ritos e tradições.
Mas a dependência de ritualismos
É o ínfimo grau da moralidade.
É mesmo o início da decadência.
Quem julga poder substituir pela inteligência
A cultura do coração,
Esse é um tolo.
Pelo que, atende a isto:
O homem correto
Age por uma lei interna,
E não por mandamentos externos.
Bebe as águas da Fonte,
E não dos canais.
Transcende estes
E vai sempre à origem daquela.
* In: Tao Te King – Lao Tse (VI a.C)
Tradução de Humberto Rohden – 1985 – 5ª Edição – Editora Alvorada