O cuidar de si mesmo, do outro e a Depressão

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A depressão é o mal do nosso século, dizem muitos especialistas. Isso porque, hoje, a depressão é uma das queixas mais comumente encontradas nas clínicas psiquiátricas e psicológicas.

Entretanto, ao falar em depressão, a questão do diagnóstico correto feito por um profissional é fundamental para o tratamento mais adequado e para a diminuição do sofrimento do paciente.

Muitas pessoas que dizem estar deprimidas estão se referindo a um modo de sentir-se naquele momento, que pode dizer respeito a um sentimento de tristeza, de desalento, de falta de alegria. Todos nós passamos por diferentes emoções ao longo da vida, e essas emoções aparecem em diferentes níveis ou graus dependendo do momento. Quem já não teve um dia ruim, um momento difícil, em que se sentiu ”pra baixo” sem muito ânimo de reagir? Pois bem, isso faz parte da vida comum de todos.
Entretanto, há que se diferenciar esse sentimento de tristeza e desânimo, que eventualmente nos atinge, da depressão propriamente dita. A chamada “depressão psiquiátrica”, diferentemente desse estado de ânimo alterado, é uma doença e que, como tal, exige cuidados e tratamento específicos.

Primeiramente, é preciso estar atento aos sintomas apresentados, que podem ser muito variados, incluindo desde as sensações de tristeza profunda, passando pelos pensamentos negativos ou pela sensação de “cabeça vazia” descrita por muitos pacientes, e indo até as alterações corporais como dores de cabeça, dores pelo corpo, enjoos, mudança de ritmo cardíaco, constipação, tontura, fraqueza e outras.

Há um conjunto de sintomas que, em especial, nos ajudam a identificar a depressão e fazer o diagnóstico. São eles: diminuição da energia de vida ou do interesse pelo mundo ao redor; mau-humor recorrente ou humor deprimido; dificuldades de concentração, atenção e aprendizagem; alterações do apetite e do sono (a pessoa dorme muito, tem dificuldades de levantar da cama todo dia, ou passa noites em claro); diminuição no ritmo das atividades físicas e mentais; reações agressivas desproporcionais; sentimento de pesar ou fracasso; dificuldade de ambientação (a pessoa sente-se como se não fizesse parte do mundo, sente-se distante do meio em que vive e das pessoas com quem convive, e sente-se um peso para os outros); forte sentimento de culpa; vontade de morrer; choro à toa ou dificuldade de chorar; e angústia excessiva.

Alguns desses sintomas podem aparecer mais em uma pessoa do que em outra, e, eventualmente, podem aparecer em uma pessoa que não está doente, mas que está passando por dificuldades emocionais em sua vida. Entretanto, quando esses sintomas não tendem a recuar com o passar dos dias, a pessoa não consegue reagir, ou então, quando alguns deles aparecem em conjunto e nessas condições (ou seja, permanecem por mais de duas ou três semanas), é hora de procurar ajuda profissional.

Muitas vezes a própria pessoa não está em condições de buscar ajuda sozinha, e daí a importância dos familiares e amigos mais próximos na identificação dos sintomas e na orientação adequada. Havendo dúvida, é imprescindível consultar um profissional.

Nem sempre é fácil admitirmos a possibilidade de que alguém próximo a nós esteja com depressão. No entanto, o mais difícil mesmo é lidar e conviver com o familiar ou o amigo nesse estado. Normalmente queremos que a pessoa reaja, enfrente a situação, e saia logo desse estado. Nessas horas, a paciência no cuidado com o outro é fundamental. Porque o fato é que ninguém escolhe estar deprimido. A depressão é um estado de profunda alteração emocional e de desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor.

Embora a alteração bioquímica esteja presente em quase todos os casos de depressão, essa não é a sua única causa. E, apesar de existirem pesquisas que buscam provar que há causas genéticas, e outras que responsabilizam o ambiente e as relações familiares, o fato é que, até hoje, não se sabe exatamente qual a causa da doença. É preciso que cada caso seja analisado com muito cuidado e tratado adequadamente.

A depressão pode ser tratada com medicamentos e psicoterapia, e o ideal é aliar um tratamento ao outro. A necessidade de medicação só pode ser corretamente verificada pelo médico psiquiatra. É ele o profissional melhor habilitado para diagnosticar e medicar o paciente. Hoje em dia há muitos medicamentos antidepressivos, e o efeito dos remédios começam, geralmente, após 20 a 30 dias de uso, variando conforme o tipo de substância ativa.

Mesmo não tendo um efeito imediato, é muitas vezes a medicação adequada que ajuda a pessoa a começar a sentir-se um pouco melhor e a falar de si, de sua dor, de suas emoções, de sua culpa. Daí a importância também da psicoterapia com um profissional competente, que pode ajudar a pessoa a enfrentar melhor a doença e a entender, aos poucos, as causas que a levaram àquele estado.

A pessoa atingida pela depressão sente-se muito vulnerável e precisa de carinho, apoio e atenção. É importante que seu estado de dor emocional seja respeitado, mesmo quando não se entende claramente o significado e a origem de tudo isso. Na verdade, só entende bem uma pessoa deprimida, aquele que já enfrentou também uma depressão.

De qualquer modo, a depressão está muito ligada a um processo de abandono e desrespeito pessoal. É muito fácil perceber como as pessoas deprimidas estão desconectadas de si mesmas, de suas vontades, de seus desejos. Não sonham, não fantasiam, não planejam, não veem perspectiva positiva de futuro. É comum que nos digam que não sabem direito o que sentem e muito menos porque sentem. Por mais estranho que isso possa parecer, essa é a realidade emocional dessas pessoas. O deprimido é alguém que, de algum modo, ou por alguma razão, perdeu-se no cuidado consigo mesmo, ou então, como acontece nos casos de depressão mais profunda, é alguém que talvez nunca tenha aprendido o significado do cuidado e amor pessoal.

Vamos voltar a esse tema outras vezes.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.