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A Bulimia em “Páginas da Vida”

Na nova novela da Rede Globo, Páginas da Vida, o autor Manoel Carlos aborda, entre outros temas, a questão da ‘Bulimia Nervosa’, um dos transtornos alimentares mais comuns dos últimos tempos, que tem atingido mulheres de todas as idades.

A personagem Giselle, representada pela atriz Rachel de Queiroz, apresenta um comportamento característico de meninas com esse transtorno. Ela tem 10 anos e é estudante de balé clássico por influência e insistência da mãe, Anna, personagem vivida por Débora Evelyn. Anna é uma bailarina frustrada e tenta, a todo custo, que sua filha se torne uma bailarina de sucesso. Anna tem pavor que sua filha engorde e a vigia permanentemente, chegando a proibir os funcionários da lanchonete da escola de vender sanduíches e doces à filha. Giselle, com medo de ser repreendida, come o que quer, mas sempre escondida da mãe. Como não pode engordar e sente-se muito pressionada pelas exigências da mãe, ela começa a provocar vômitos logo após se alimentar.

Assim é a bulimia, um transtorno alimentar onde a pessoa come compulsivamente todo tipo de alimentos, que, assim que são ingeridos, passam a ser eliminados por meio de vômitos auto induzidos, uso de laxantes, diuréticos e exercícios físicos. Quem sofre deste transtorno tende a manter o peso dentro dos níveis de normalidade, o que pode dificultar aos familiares perceberem o que está acontecendo. Isto porque, através dos métodos de purgação, o que foi ingerido é eliminado e, assim, essas pessoas compensam o ganho de peso que poderia acontecer. Essa é a chamada bulimia de tipo purgativo.

Há, também, a bulimia não purgativa, em que a pessoa, após o ataque compulsivo a todo tipo de alimentos, realiza um jejum alimentar e exercícios físicos de forma exagerada com o intuito de queimar as calorias adquiridas.

Nos transtornos alimentares a grande questão manifesta é a preocupação excessiva com o peso e com a forma física. Há uma distorção da imagem corporal, e, normalmente, a pessoa se vê muito mais gorda do que ela realmente está.

Em geral tudo começa com uma simples dieta para perda de alguns quilos, porque a pessoa está em busca de melhorar sua autoestima, de sentir-se admirada, desejada, e principalmente, aceita pelas pessoas no meio em que vive. Com o tempo, a restrição alimentar vai aumentando e, com isso, os ataques compulsivos tendem a ser mais frequentes. A cada ataque a pessoa sente-se mais culpada por estar “estragando” a dieta e por sentir que não consegue se controlar. A culpa excessiva faz com que a pessoa use cada vez mais de métodos de purgação, e o ciclo instalado, se agrava.

Além do desejo de emagrecer e até mesmo junto dele, podem estar situações consideradas como “disparadoras” do transtorno como: rupturas e perdas afetivas, fracassos pessoais ou profissionais, e perda de posição financeira ou social. No entanto, por detrás de tudo isso, existem questões emocionais muito mais complexas e significativas envolvidas no processo bulímico. Só para citar um exemplo, é comum encontramos nesse tipo de paciente uma depressão profunda que se arrasta por anos, e que pode ter permanecido disfarçada e até mesmo inconsciente para a própria pessoa que sofre. Em geral, as pacientes bulímicas são extremamente extrovertidas e falantes, o que passa a falsa impressão, à primeira vista, de que estão longe de sofrer uma depressão.

O tratamento para esses transtornos precisa ser multidisciplinar para ser eficiente, envolvendo um médico psiquiatra, um psicólogo ou psicoterapeuta, e um nutricionista, formando um tripé, que alia a medicação, o entendimento psicodinâmico do sofrimento da paciente e um processo de reeducação alimentar.

Entretanto, a adesão das pacientes ao tratamento não é uma questão simples, pois elas não aceitam que estejam doentes e que precisem de ajuda. Além disso, a mídia mundial cultua a imagem do corpo magro e esquelético, o que não contribui em nada para o reconhecimento do problema como uma verdadeira doença. As pacientes querem emagrecer a todo custo e mesmo sabendo que algo não vai bem com elas, tendem a esconder os sintomas e a se isolar cada vez mais, permanecendo fechadas e solitárias em seu enorme sofrimento.

As recaídas e a cronificação nos casos de bulimia também são muito frequentes, por isso é necessário, além de um acompanhamento intensivo por uma equipe multidisciplinar, a participação efetiva da família e dos amigos para o esclarecimento da situação e a tomada de atitude, pois o objetivo maior deve ser a diminuição do sofrimento e a obtenção de uma melhor qualidade de vida para a paciente.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

“Armações do amor”

Há algum tempo fui ao cinema assistir ao filme Armações do Amor. Há tempos não via uma comédia que me fizesse rir de verdade sem deixar de passar uma mensagem profunda.

O filme conta a história de um casal que tem um filho de 35 anos, solteirão, e que não quer saber se sair da casa dos pais. Eles resolvem contratar uma moça que os ajudará a tirar o filho de casa. Só que no meio do caminho, a profissional se apaixona pelo rapaz e ele por ela, e daí advém uma série de desdobramentos que prendem o público à trama.

A questão que me chamou a atenção no filme é a seguinte: os filhos acabam ficando na casa dos pais nem tanto pela mordomia e pelo conforto que têm lá, mas muito mais pela falta de autoestima. A falta de confiança em si mesmos, em seu potencial para viver uma vida própria, um relacionamento, constituir uma família, manter essa família, conquistar e manter uma boa posição profissional, etc., os faz ficar “atrasando” a saída da casa dos pais.

De outro lado, os pais, muitas vezes por medo de se verem sozinhos novamente, ficam contribuindo às vezes conscientemente, e muitas vezes, inconscientemente, para que os filhos não saiam de casa. Em geral, os pais, absorvidos na tarefa de cuidar da prole, há tempos não se veem e não se reconhecem mais como casal e a saída de casa dos filhos os obriga a enfrentar a verdade de seu relacionamento.

É claro que, da parte dos filhos, a falta de autoestima não é a única explicação para esse fato, mas hoje gostaria de falar da importância de se entender a questão sob esse ponto de vista.

Vivemos uma era extremamente competitiva e as oportunidades de trabalho e desenvolvimento profissional não estão disponíveis a todos. Primeiro há muito mais profissionais formados do que o mercado consegue absorver, e depois, muitos desses profissionais têm uma formação deficitária, seja porque estudar bem tem um alto custo nesse País, ou porque só o estudo não dá conta de uma boa e completa formação. Assim, é necessária a experiência no mercado de trabalho para que o profissional venha a ganhar corpo, e com isso, confiança naquilo que faz.

Muitas vezes os relacionamentos oferecem essa parcela de autoconfiança que falta às pessoas e isso ajuda na entrada e permanência no mercado de trabalho. Outras vezes, o desenvolvimento profissional melhora a autoestima do indivíduo e com isso ele se sente mais livre e animado a compartilhar sua vida com outra pessoa. Ele está vendo sua trajetória profissional ser feita e sente-se impelido a criar a dar continuidade à sua história pessoal e familiar.

Mas e quando nem uma e nem outra área da vida da pessoa andam bem? E quando os próprios pais, por temerem o reencontro com o outro do par, às vezes também por falta de autoestima, pelo medo de serem rejeitados ou de não serem mais amados pelo outro, ficam impedindo os filhos de seguirem seu próprio rumo?

Se observarmos nossas famílias e as relações mais próximas vamos ver uma série de exemplos parecidos. E muitas vezes percebemos que as pessoas estão aparentemente adaptadas à situação, mas o melhor seria dizer “acomodadas”. Isso porque essas pessoas não querem mexer no que causa sofrimento. Para os filhos, enxergar o verdadeiro motivo que os mantém na casa dos pais, os leva a encarar seus temores, suas faltas e a baixa autoestima, o que traz profunda dor. Para os pais, não é diferente. Reencontrar-se como homem e mulher depois de uma verdadeira “saga” como pai e mãe não é tarefa simples.

É preciso muita coragem para lidar com essa situação. Sair do casulo significa correr riscos, principalmente o risco de descobrir que não se é tão feliz assim quanto se pensava, não se é tão especial como se imaginava, e o risco de sermos rejeitados pelo outro.

Em primeiro lugar é preciso ser honesto consigo mesmo e admitir que se está vivendo essa situação, por mais triste que seja. Depois é começar a enfrentar dia-a-dia nossos temores, medos e ilusões. Só quando assumimos nossas verdades, sejam elas agradáveis ou não, é que podemos fazer algo com elas. Enquanto fecharmos os olhos para o que acontece, não se pode mudar o rumo das coisas. Mas quando assumimos nossa verdade interior, nós estamos nos assumindo integralmente e, nesse momento, a roda da autoestima já começa a girar a nosso favor. É dentro de nós mesmos que se encontra a inesgotável fonte de recursos e de amor próprio. E nessa tarefa, pais e filhos podem se apoiar, se ajudar e caminhar juntos em direção a uma vida mais plena e mais feliz.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

 

A juventude e o canto da sereia

Cada vez mais noto como faltam referências aos jovens de hoje. Os pais e a escola têm a função de educar as crianças e os jovens e prepará-los para a vida adulta. Deveriam ser aqueles os responsáveis por transmitir a cultura, os valores, e as referências. Mas isso já não acontece.

Do lado dos pais, vemos que são tantas as reviravoltas e mudanças em nossa sociedade, em seus papéis como homem e mulher, marido e esposa, em seu ambiente profissional, que eles também estão perdidos sem saber muitas vezes que rumo dar às suas próprias vidas.

Do lado da escola a situação é pior. Os professores que antes eram vistos como representantes dos pais, hoje são desrespeitados e maltratados, pelo sistema educacional e pela sociedade em geral. Os professores perderam seu status, e o que eles ensinam não tem valor. São pessoas mal remuneradas, que vivem mal, e em geral, estão infelizes. São um anti-modelo em nossa cultura consumista que privilegia o “ter” em detrimento do “ser”.

As referências atuais se resumem ao “quanto”: quanto de dinheiro se tem, quantos carros e casas, quantos cursos no seu currículo, quantas pessoas se conhece… Mas, o “como” se tem tudo isso, ou seja, em que condições de qualidade – ou não – se tem tudo isso, não vem ao caso.

A cultura do consumo e do poder pelo “ter”, só faz aumentar a angústia dos jovens, pois, como a importância está no ter, e são muitos os que não têm nada, temos uma juventude que cresce a margem da sociedade e que é alvo fácil da depressão, das drogas, e da criminalidade. Para os que têm, também são poucas as chances de um caminho melhor, pois uma conta bancária bem recheada, permite que se abram muitas portas, mas que nem sempre podem ser bem aproveitadas, pois é preciso estar inteiro e pleno em tudo que se faz para que se tenha êxito externo e paz interior.

A economia do País achatada, aliada ao aumento populacional, faz com que a concorrência seja muito grande, e a quantidade de oportunidades ofertadas aos jovens que chegam ao mercado de trabalho, diminutas. Faltam, assim, perspectivas para um futuro melhor.

Antes as pessoas trabalhavam para construção de um modelo familiar e de indivíduo e hoje isso se deteriorou. Os modelos antigos não nos servem mais, mas também não temos modelos novos para seguir.

A ideia da pós-modernidade é a do “não compromisso” e do excesso de oportunidades.

Os filhos da cultura “fast food”, não querem se comprometer e se responsabilizar. Tudo é muito rápido, ágil e intenso, e é preciso aproveitar alucinadamente cada curtição nova que surge, por mais efêmera que seja. E quanto mais novidades tiverem, melhor, pois assim não haverá tempo para se dar conta do vazio enorme que perpassa pela alma, escondida que está atrás de tanta maquiagem e de produtos de marca.

As pessoas equivalem o compromisso a uma ideia de prisão. Como se comprometer com alguma coisa, uma profissão ou uma pessoa em um relacionamento, se existem tantas outras oportunidades batendo à sua porta? O problema é que não existe, de fato, essa quantidade imensa de possibilidades. Existem pseudo-oportunidades a toda hora acenando para nós e prometendo uma vida melhor. É o tal do canto da sereia, que pode nos atrair para o fundo do mar.

Em meio a essa ausência de referências externas, é preciso se fazer um esforço e procurá-las dentro de cada um de nós. É necessário parar em meio a esse turbilhão de possibilidades para o exercício do sentir. Sentir o que eles querem de verdade para suas vidas e para o futuro da humanidade.

O futuro é o nosso presente. A cada dia estamos construindo um pouco de nossas vidas e do mundo em que vivemos. É preciso fechar os ouvidos para o canto da sereia, para ouvirmos a música que canta em nossa alma. Só ela nos levará para o lugar em que precisamos estar. E esse lugar, com certeza, não será o fundo do mar.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

A importância de correr riscos na vida

Conforme vamos crescendo, amadurecendo e, até mesmo, porque não dizer, envelhecendo, temos a tendência a apresentar mais medos e receios do que quando somos mais jovens. Isso se dá, em parte, porque a experiência que vamos adquirindo pelas situações vividas, nos torna mais cuidadosos conosco e com as pessoas a quem queremos bem, o que é saudável.

Entretanto, algumas vezes, o temor pelas coisas diferentes que possam acontecer, que saiam do controle habitual, pode tomar tal proporção que começa a nos impedir de viver e experenciar novidades que nos trariam outro ânimo. Nesse caso, o medo, impulso que deveria servir para nos proteger, começa a nos engessar. Vemos pessoas que deixam de experimentar muitas coisas na vida pelo medo enorme de sofrerem ou de se sentirem frustradas.

Um bom exemplo disso encontramos nos relacionamentos amorosos da nossa pós-modernidade. As pessoas têm hoje muito mais facilidade de encontrar e conhecer um número cada vez maior de pessoas. Temos a tecnologia a nosso favor: telefone, Internet, sites de encontros amorosos, e chats. Em contrapartida a essa facilidade, vemos a enorme dificuldade que as pessoas têm tido em se relacionar umas com as outras. Os encontros virtuais, esporádicos e superficiais são muitos, mas um verdadeiro encontro amoroso é cada vez mais raro.

Lógico que essa é uma questão complexa que merece muito mais cuidado ao ser tratada por nós, até mesmo nesse curto espaço que temos. No entanto, sem ter a pretensão de explicá-lo por inteiro, podemos pensar que atrás dessa dificuldade de encontros está um medo enorme de se aproximar do outro, descobrir o amor, e sofrer depois com uma eventual perda ou abandono. O que deveria ser a regra, o encontro verdadeiro, vira a exceção. A regra passa a ser o desencontro, o abandono e a perda, dos quais todos querem se livrar. As pessoas passam a se preocupar mais com o “não sofrer”, do que com o “viver” e o “amar”.

Não estamos querendo dizer com isso que pessoas que sofrem dentro de um relacionamento devam ficar fazendo esforços intermináveis para mantê-lo a qualquer preço. É preciso ponderação, principalmente no campo das emoções. Todo relacionamento exige um investimento que não é baixo, mas o seu retorno tem sempre que ser maior. Do contrário, não vale a pena continuar.

Mas o que vemos hoje é que muitas pessoas não chegam nem a entrar de verdade em um relacionamento. Ao menor sinal de frustração e dor, saem correndo dele, como se não tivessem condições psíquicas de suportar o processo de um encontro verdadeiro, que não deixa de passar por muitos pequenos desencontros no meio do caminho. Quando conhecemos uma nova pessoa, não só entramos em contato com o diferente universo emocional do outro, mas também descobrimos um outro universo emocional em nós mesmos. Pessoas diferentes despertam emoções e questões diferentes em cada um de nós, e por isso é tão importante nos relacionarmos para conhecer melhor a nós mesmos. É o autoconhecimento que faz com que tenhamos uma vida mais realizada em todos os sentidos, principalmente, uma vida amorosa mais plena.

É preciso um pouco mais de coragem e menos temores para viver. Não há como viver de modo mais intenso sem correr os riscos necessários. Ficar engessado em velhos medos não nos ajuda em nada. O exercício de novas experiências é que pode nos mostrar como a vida pode ser vivida, com muito mais qualidade, e o quanto grande parte desses temores não se confirmam na realidade. E mesmo quando esses medos se mostram reais, podemos ver que a situação não nos derruba, mas, ao contrário, nos faz mais fortes e maduros. Nesse campo da vida, assim como em todos os outros, vale a máxima que diz: “quem não arrisca não petisca”.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

 

A Depressão e o reencontro consigo mesmo

No artigo anterior falávamos que na depressão há uma profunda mudança no estado de ânimo da pessoa. Essa mudança é fruto de mudanças no equilíbrio bioquímico do cérebro e até hoje, não se sabe, ao certo, o que provocaria essas alterações.

Nos últimos anos, com o desenvolvimento de pesquisas e estudos na área da saúde, principalmente no que diz respeito ao estresse, sabe-se que vivências emocionais traumáticas podem provocar alterações no funcionamento cerebral e atingir o corpo, causando desde leves sintomas físicos até doenças que se instalam cronicamente.

A medicina moderna procura ter uma visão total do ser humano, o que pressupõe que para entender e tratar qualquer alteração física ou psíquica é preciso levar-se em conta a experiência emocional do paciente naquele momento e ao longo de sua história de vida. Aquele corpo e mente que apresentam um sintoma ou uma doença, não são simplesmente uma máquina em funcionamento, mas pertencem a um ser humano que sente e sofre infinitas experiências emocionais no seu dia-a-dia.

Quando uma pessoa consegue “processar” internamente os conteúdos emocionais de forma a elaborar as experiências que vai tendo no transcorrer da vida, há uma redução considerável nas chances de vir a desenvolver sintomas e doenças graves. Nesse caso, a experiência que veio trazendo um desequilíbrio do estado anterior, pode ser processada, e a pessoa alcança um novo equilíbrio, já com o acréscimo daquela experiência, o que, em geral, contribui para o amadurecimento.

Entretanto, quando a experiência vivida é muito traumática, ou há um excesso de carga emocional envolvida, fica mais difícil, para o indivíduo, contê-la dentro de si e elaborá-la. Quando isso acontece, é como se a experiência extrapolasse seus limites e viesse a atingir o corpo ou o psiquismo como forma de expressão daquele desequilíbrio. O estado anterior de equilíbrio em que a pessoa se encontrava não pode ser retomado com facilidade. Quando isso se repete inúmeras vezes na vida, há um acúmulo de dificuldades emocionais que podem ir, silenciosamente, se instalando no corpo, que passa, então, a apresentar sintomas.

É muito comum também que uma doença apareça quando a pessoa ignora os sinais de alerta internos. Nesse caso, a pessoa tem experiências emocionais que são difíceis de suportar, e ao invés de tentar lidar com elas, ou buscar ajuda especializada para tanto, ignora os sinais de que algo precisa ser feito. Pode ser, por exemplo, que algo precise ser dito para alguém, ou algo na vida da pessoa precisa ser modificado, ou, ainda, alguma atitude tem de ser tomada e é sempre adiada. Às vezes, trata-se até de uma ilusão que a pessoa vive e que não quer se desfazer dela. Tudo gera sofrimento, sofrimento este que só tende a aumentar a cada vez que se decide continuar a ignorar os sinais de atenção.

Podemos passar uma vida inteira fingindo para os outros, sermos ou sentirmos algo que não corresponde à realidade. Mas nós não podemos ignorar nossa verdade interior. Se não dermos ouvidos a ela, ela nos chamará a atenção, ainda que seja através de uma doença.

Nesse sentido, as doenças são tentativas de retorno ao equilíbrio perdido, por isso, não precisam ser vistas como um mal em si mesmo. Qualquer doença pode, e até deve, ser tida como um bem. É ela que pode levar a pessoa ao reencontro consigo mesma.

Não estamos com isso querendo fazer apologia alguma ao sofrimento ou ao sacrifício pessoal. A ideia é ampliar a consciência que se tem sobre as doenças que podem ser vistas como algo que vem para nos alertar de que estamos precisando de mais cuidado e respeito pessoal.

Essa mudança de ponto de vista, altera toda a possibilidade de recuperação e melhora. Se a pessoa pode enxergar a situação por esse prisma, ela compreende que a cura está muito mais nas suas mãos do que nas do médico, do terapeuta ou do medicamento. Há muito mais chances de melhora se a pessoa puder entender sua parcela de responsabilidade no tratamento e se dispuser a fazer algo por si mesma.

É claro que isso não é algo simples e fácil de ser feito. Primeiro, porque demanda coragem em admitir que a própria pessoa é responsável, em grande parte, pelo sofrimento que a acomete, e também porque é preciso reconhecer a necessidade real de ajuda especializada, procurar por ela e aceitá-la, o que significa confiar seus problemas e dificuldades a um outro que, como profissional, está preparado para oferecer ajuda e orientação necessárias naquele momento.

Esse processo de adoecimento e cura não é diferente nos casos de depressão. Assim como acontece na maioria das doenças, a pessoa deprime como um sinal de um corpo e de um “eu” que pedem cuidados.

Como o próprio nome diz, depressão tem a ver com rebaixamento, diminuição, letargia, enfraquecimento, e isso acontece porque há uma necessidade de recolhimento para recuperação. É como se a pessoa precisasse voltar para dentro de si e buscar os conteúdos emocionais que ela represou, não elaborou ou tentou esquecer.
A depressão está muito ligada ao autoabandono. A tristeza profunda, característica do estado depressivo, reflete esse abandono pessoal. O deprimido é alguém que há muito tempo não se vê, não se ouve, não se leva em conta, ou pelo menos não leva em conta suas necessidades emocionais. Ninguém entra em depressão profunda, a não ser que a causa seja unicamente orgânica (o que acontece, mas é raro), sem antes ter se deixado muito de lado e ignorado os sinais internos.

Uma pessoa que está sofrendo de depressão precisa de muito cuidado, carinho e respeito. Não deve ser tratada como fraca e nem coitada, pois, por incrível que pareça, até para nos deprimirmos precisamos ter força.

A depressão vem como uma tentativa do “eu” de se reorganizar. Para isso é preciso recuperar algo essencial que foi perdido, ou seja, o contato com o seu mundo interior, com sua essência. Essa redescoberta de si mesmo exige honestidade e coragem pessoal para um intenso e profundo trabalho interno.

É preciso olhar para dentro de si e se perguntar: onde eu errei comigo mesmo?; o que eu estive tentando ignorar em minha vida até agora?; quando comecei a me abandonar e perdi o contato comigo?; quem sou eu hoje?; o que eu sonhei um dia para mim é algo parecido com o que vivo hoje?; e outras questões que há muito tempo provavelmente essa pessoa não se faz, porque, em geral, não está acostumada a se olhar e a se ouvir.

Embora ninguém goste de sofrer, passar por uma depressão pode trazer um enorme ganho em termos de amadurecimento e autoconhecimento. Lidar com o que está mal resolvido e não elaborado só faz com que a pessoa se sinta mais dona de sua própria vida, e ao sair desse estado, poderá encontrar-se muito mais fortalecida e feliz.

Para se realizar pessoalmente na vida é preciso estar em constante e pleno contato com as necessidades emocionais para poder atendê-las. Nesse sentido, buscar ajuda médica e psicológica pode ser um primeiro passo em direção ao resgate de si mesmo.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

O cuidar de si mesmo, do outro e a Depressão

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A depressão é o mal do nosso século, dizem muitos especialistas. Isso porque, hoje, a depressão é uma das queixas mais comumente encontradas nas clínicas psiquiátricas e psicológicas.

Entretanto, ao falar em depressão, a questão do diagnóstico correto feito por um profissional é fundamental para o tratamento mais adequado e para a diminuição do sofrimento do paciente.

Muitas pessoas que dizem estar deprimidas estão se referindo a um modo de sentir-se naquele momento, que pode dizer respeito a um sentimento de tristeza, de desalento, de falta de alegria. Todos nós passamos por diferentes emoções ao longo da vida, e essas emoções aparecem em diferentes níveis ou graus dependendo do momento. Quem já não teve um dia ruim, um momento difícil, em que se sentiu ”pra baixo” sem muito ânimo de reagir? Pois bem, isso faz parte da vida comum de todos.
Entretanto, há que se diferenciar esse sentimento de tristeza e desânimo, que eventualmente nos atinge, da depressão propriamente dita. A chamada “depressão psiquiátrica”, diferentemente desse estado de ânimo alterado, é uma doença e que, como tal, exige cuidados e tratamento específicos.

Primeiramente, é preciso estar atento aos sintomas apresentados, que podem ser muito variados, incluindo desde as sensações de tristeza profunda, passando pelos pensamentos negativos ou pela sensação de “cabeça vazia” descrita por muitos pacientes, e indo até as alterações corporais como dores de cabeça, dores pelo corpo, enjoos, mudança de ritmo cardíaco, constipação, tontura, fraqueza e outras.

Há um conjunto de sintomas que, em especial, nos ajudam a identificar a depressão e fazer o diagnóstico. São eles: diminuição da energia de vida ou do interesse pelo mundo ao redor; mau-humor recorrente ou humor deprimido; dificuldades de concentração, atenção e aprendizagem; alterações do apetite e do sono (a pessoa dorme muito, tem dificuldades de levantar da cama todo dia, ou passa noites em claro); diminuição no ritmo das atividades físicas e mentais; reações agressivas desproporcionais; sentimento de pesar ou fracasso; dificuldade de ambientação (a pessoa sente-se como se não fizesse parte do mundo, sente-se distante do meio em que vive e das pessoas com quem convive, e sente-se um peso para os outros); forte sentimento de culpa; vontade de morrer; choro à toa ou dificuldade de chorar; e angústia excessiva.

Alguns desses sintomas podem aparecer mais em uma pessoa do que em outra, e, eventualmente, podem aparecer em uma pessoa que não está doente, mas que está passando por dificuldades emocionais em sua vida. Entretanto, quando esses sintomas não tendem a recuar com o passar dos dias, a pessoa não consegue reagir, ou então, quando alguns deles aparecem em conjunto e nessas condições (ou seja, permanecem por mais de duas ou três semanas), é hora de procurar ajuda profissional.

Muitas vezes a própria pessoa não está em condições de buscar ajuda sozinha, e daí a importância dos familiares e amigos mais próximos na identificação dos sintomas e na orientação adequada. Havendo dúvida, é imprescindível consultar um profissional.

Nem sempre é fácil admitirmos a possibilidade de que alguém próximo a nós esteja com depressão. No entanto, o mais difícil mesmo é lidar e conviver com o familiar ou o amigo nesse estado. Normalmente queremos que a pessoa reaja, enfrente a situação, e saia logo desse estado. Nessas horas, a paciência no cuidado com o outro é fundamental. Porque o fato é que ninguém escolhe estar deprimido. A depressão é um estado de profunda alteração emocional e de desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor.

Embora a alteração bioquímica esteja presente em quase todos os casos de depressão, essa não é a sua única causa. E, apesar de existirem pesquisas que buscam provar que há causas genéticas, e outras que responsabilizam o ambiente e as relações familiares, o fato é que, até hoje, não se sabe exatamente qual a causa da doença. É preciso que cada caso seja analisado com muito cuidado e tratado adequadamente.

A depressão pode ser tratada com medicamentos e psicoterapia, e o ideal é aliar um tratamento ao outro. A necessidade de medicação só pode ser corretamente verificada pelo médico psiquiatra. É ele o profissional melhor habilitado para diagnosticar e medicar o paciente. Hoje em dia há muitos medicamentos antidepressivos, e o efeito dos remédios começam, geralmente, após 20 a 30 dias de uso, variando conforme o tipo de substância ativa.

Mesmo não tendo um efeito imediato, é muitas vezes a medicação adequada que ajuda a pessoa a começar a sentir-se um pouco melhor e a falar de si, de sua dor, de suas emoções, de sua culpa. Daí a importância também da psicoterapia com um profissional competente, que pode ajudar a pessoa a enfrentar melhor a doença e a entender, aos poucos, as causas que a levaram àquele estado.

A pessoa atingida pela depressão sente-se muito vulnerável e precisa de carinho, apoio e atenção. É importante que seu estado de dor emocional seja respeitado, mesmo quando não se entende claramente o significado e a origem de tudo isso. Na verdade, só entende bem uma pessoa deprimida, aquele que já enfrentou também uma depressão.

De qualquer modo, a depressão está muito ligada a um processo de abandono e desrespeito pessoal. É muito fácil perceber como as pessoas deprimidas estão desconectadas de si mesmas, de suas vontades, de seus desejos. Não sonham, não fantasiam, não planejam, não veem perspectiva positiva de futuro. É comum que nos digam que não sabem direito o que sentem e muito menos porque sentem. Por mais estranho que isso possa parecer, essa é a realidade emocional dessas pessoas. O deprimido é alguém que, de algum modo, ou por alguma razão, perdeu-se no cuidado consigo mesmo, ou então, como acontece nos casos de depressão mais profunda, é alguém que talvez nunca tenha aprendido o significado do cuidado e amor pessoal.

Vamos voltar a esse tema outras vezes.

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

 

Sexualidade feminina

Outro dia desses, recebi no meu e-mail uma solicitação de uma revista feminina de grande circulação nacional e internacional, para responder a uma pesquisa sobre sexualidade feminina. Curiosa, comecei a responder às perguntas.
Não era preciso passar das primeiras linhas para perceber que o nível das pesquisas publicadas nessas revistas sobre sexualidade ainda fica muito longe da compreensão do que se passa na alma e no corpo da mulher.

Alma e corpo sim, porque a mulher que faz sexo, o faz com corpo e alma. E isso não diz respeito apenas a estar apaixonada pelo outro, o que pode acontecer, e é muito bom quando acontece. Mas, antes, refere-se à mulher que pode estar apaixonada por si mesma, e assim, estar de corpo e alma, por inteiro, vivendo aquela experiência.

O fato é que existem ainda muitos mitos e confusões sobre a sexualidade da mulher (o que não deixa de ser verdade também em relação ao homem, embora aqui abordemos mais diretamente a sexualidade feminina).

Muitas mulheres parecem ainda não saber muito sobre si mesmas, sobre seus corpos, seus desejos e suas fantasias. São mulheres marcadas, em geral, por uma educação extremamente repressora. Tendem a comportar-se como se os desejos e fantasias fossem questões pertencentes unicamente ao mundo masculino e proibidas para elas.

Assim, normalmente não expressam seus desejos e nem saem em busca de realizá-los. Se elas transam, é porque o namorado ou marido quer. Ou seja, como não conseguem sentir e validar seus desejos, apenas se restringem a satisfazer os desejos e fantasias do parceiro.

Algumas, quando muito, conseguem através dessa atuação, se aproximar um pouco mais do que se passa em seu interior, ainda que sem assumir-se integralmente.
No entanto, é muito mais comum que elas sequer se deem conta do que acontece com seu corpo e apenas respondam mecanicamente às solicitações do parceiro, temendo serem tachadas de frígidas, frias, desinteressadas, e ainda, correrem o risco de serem trocadas por qualquer outra mais fogosa.

De outro lado, há um outro grupo de mulheres que apresentam um discurso pra lá de moderno e avançado, onde tentam, e nem sempre convencem, passar a ideia de que são sexualmente liberadas, independentes e resolvidas. Alardeiam aos quatro cantos, e para quem queira ouvir, que gostam mesmo de sexo e que não aguentam ficar sem transar por não sei quanto tempo. Contam das várias acrobacias sexuais que costumam praticar, parecendo sempre querer contar vantagem em relação às outras mulheres. Ao ouvi-las vamos tendo a sensação de que existe mais vazio em suas vidas do que elas podem se permitir enxergar. As mulheres desse grupo, a quem podemos chamar de “pseudo-ninfomaníacas”, parecem mesmo precisar realizar muitas “acrobacias” sexuais como uma forma de esconder de si mesmas e do mundo a enorme aridez de seu mundo interior. Afora, os casos de compulsão sexual, se observarmos mais atentamente, veremos que esse discurso normalmente soa falso e desarticulado do que a mulher nos transmite por outras vias de sua expressão pessoal.

Em meio a esses dois grupos, existe uma série de mulheres que se importam verdadeiramente com o que acontece em sua vida de um modo geral, e levam a sério sua sexualidade e seu prazer, não como algo à parte de suas vidas, mas como algo que é inerente a elas e que, como tal, não deve ser desconsiderado.

Esse grupo de mulheres vêm crescendo em número a cada dia, mas parece que a maioria das revistas femininas ainda está muito longe de alcançá-las e compreendê-las.

O fato é que sexualidade não é e nunca foi uma questão simples para todos nós.

Envolve uma tal complexidade que exige extremo cuidado para se tratar do tema.

Assim como nós, há muitos anos, nos apaixonamos, amamos, nos relacionamos e casamos, e até hoje estamos aprendendo sobre tudo isso, podemos pensar que estamos engatinhando no que diz respeito à sexualidade.

São tantas as tentativas de regramento, e de outro lado, a busca por sair da repressão, que andamos de lado para outro, perdidos, buscando encontrar a nós mesmos no meio disso tudo.

Nessa altura não sabemos mais o que é desejo, o que é fantasia, o que é real e o que é imaginário.

Sabemos quais os conceitos e comportamentos proibidos ou reprimidos por alguns setores da sociedade ou pela moral cristã, e sabemos o que é considerado como politicamente correto, liberado, resolvido e caracterizado como comportamento pós-moderno por outras esferas da sociedade.

A todo tempo, pululam pesquisas e trabalhos sobre sexualidade, sobre comportamento sexual, “disfunções sexuais”, sobre ejaculação precoce, frigidez, ausência de desejo, “desvios” do desejo, todos na tentativa desesperada de normatizar e “medicalizar” a sexualidade de cada um, quando não parece ser possível fazê-lo, já que somos seres únicos.

Em geral, quando não sabemos o que fazer com algo ou como lidar com determinadas questões, sentimos angústia e tendemos a buscar guarida em normas e regras que, no máximo, nos trarão uma segurança relativa e muito frágil.

Com a sexualidade, devido ao alto grau de angústias, dúvidas e questionamentos despertados, tendemos a fazer isso mais recorrentemente ainda. E os meios de comunicação, a igreja, os canais influentes da sociedade, estão à nossa disposição, cheios de fórmulas e regramentos que parecem simples e prometem nos livrar das angústias, dúvidas, e quando não, do pecado.

É preciso lembrar que a sexualidade é mais um aspecto fundamental da nossa intrincada e rica natureza humana, e como tal, precisa ser respeitada em toda a extensão de sua complexidade, com todas as implicações que traz para a vivência particular de cada um de nós.

A sexualidade está para além da prática do sexo. Ela diz respeito à expressão natural de cada ser, envolvendo toda uma postura de vida, um entendimento de si mesmo como homem e mulher, seres autônomos, desejantes e pensantes.

O modo como lidamos com nossa sexualidade está diretamente ligado ao modo como nos posicionamos no mundo, e vice-versa.

Assim, se estamos satisfeitos com o desenrolar de nossa vida sexual, isso aparece em outras esferas da nossa vida. De outro lado, se estamos passando por dificuldades em algumas áreas de nossa vida, essas dificuldades vão, inevitavelmente, se revelar, e maior ou menor grau, em nossa vida sexual.

Somos seres em constante processo de desenvolvimento, amadurecimento e mudança. Já não somos a mesma pessoa que éramos ontem, e amanhã, não seremos mais quem somos hoje. Somos influenciados pelo mundo e o mundo nos influencia. Mas dizer o que é certo ou errado em termos de nossa sexualidade não compete ao mundo.

Precisamos conhecer melhor nosso corpo e nossa alma e nos perguntar o que queremos da vida, inclusive de nossa vida sexual.

O que nos agrada, e o que não nos agrada? Estamos respeitando o que sentimos ou já não sabemos mais o que sentimos? Sabemos o que desejamos de verdade? Validamos esse desejo ou só nos permitimos desejar dentro do modelo estipulado e vendido pela mídia ou pela sociedade? Podemos expressar em nossa intimidade nossa singularidade, ou deixamos que o mundo com suas regras e normatizações invada nossas camas e nossos sonhos?

São questões a se pensar. Mas, mais do que se pensar, são questões para começar a sentir.

Só para terminar, voltando a tal pesquisa sobre sexualidade da revista, me senti vingada ao responder uma das perguntas que questionava algo como: “Se você pudesse escolher entre transar tantas vezes (não me lembro o número de vezes) por semana ou mês, ou ter R$2.000,00 por mês, para gastar em roupas e sapatos, o que você preferiria?”

Juro que fiquei decepcionada! Honestamente? Diria a eles que R$2.000,00 é realmente muito pouco por mês para saciar os desejos de qualquer mulher! Eu esperava mais dessa ‘conceituada’ revista feminina!

 

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

Filhos adultos que não saem de casa

Hoje em dia é cada vez maior o número de filhos que mesmo após atingirem a maioridade e até mesmo alguma independência financeira, permanecem vivendo na casa dos pais.

Encontramos adultos com idades variando entre 25 e 40 anos que, por alguma razão, não conseguem sair da casa paterna. Muitos estão acomodados nessa situação, e muitos pais também se adaptam bem e até preferem que essa condição se perpetue.

Em geral, pais e mães mais saudáveis psiquicamente, de bem com suas próprias vidas e seus casamentos, ajudam os filhos a seguirem seu próprio caminho a partir de um certo momento da vida. E isso inclui, não necessariamente que esse filho ou filha se casem, tenham filhos, mas, que consigam ter autonomia e vida própria, o que significa ter uma vida profissional e social própria, um trabalho remunerado, sua própria casa, pagar suas contas, e fazer suas escolhas com mais independência.

Diferente do que acontecia há alguns anos, quando os filhos saíam da casa dos pais para casar, hoje, está cada vez mais difícil que isso aconteça. As pessoas estão descobrindo que não precisam necessariamente se casar para serem felizes, ou que pelo menos, podem adiar essa decisão por mais alguns anos. É certo que muitas vezes esse adiamento está ligado a uma impossibilidade de crescer e assumir responsabilidades pela própria vida. E aí é que mora o perigo.

Escolher não se casar logo cedo, ou simplesmente não casar, é uma decisão que pode e deve ser tomada se a pessoa sente que é o melhor para ela. Aliás, quanto mais maduros estivermos para tomar uma decisão desse porte, melhor poderemos decidir, e estaremos menos sujeitos a erros e enganos.

Entretanto, não deveria ser por esse motivo, que os filhos adultos permanecessem na casa dos pais, sem fazer sua própria vida. Crescer e casar são coisas independentes. Não é porque não se casa, que não está na hora de o filho seguir seu próprio rumo. O crescimento é inevitável, o casamento é uma escolha. Será verdade? Em parte.

Crescer também depende de uma escolha. Primeiro, depende da escolha dos pais em “empurrar” os filhos para a vida em vez de prendê-los sob seus cuidados como se fossem seres incapazes de se cuidar sozinhos. E segundo, depende da escolha dos filhos em assumir ou não a responsabilidade por suas próprias vidas e sua autonomia.

Até para crescermos do ponto de vista biológico, precisamos de um investimento dos pais. São eles que nos alimentam, cuidam de nossa saúde, nos ensinam a andar, falar, enfim, oferecem os estímulos necessários ao nosso desenvolvimento saudável. Quando falamos do crescimento psíquico não é diferente. Os filhos precisam também de estímulo nesse sentido. E só pais que realmente cresceram no sentido psíquico e emocional, e alcançaram algum nível de autonomia e maturidade, podem ajudar e favorecer o crescimento dos filhos.

Estudos na área mostram que a chamada “fase da adolescência” que precede à entrada na vida adulta está durando cada vez mais. Antes, considerava-se adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos. Depois, essa faixa se estendeu até 21, depois 24, e hoje já falamos em adolescentes com 35, 36 anos. Isso acontece porque a adolescência em si mesma não é uma fase da vida propriamente dita, estabelecida apenas cronologicamente, mas sim, um período da vida marcado por determinadas situações que incluem alterações físicas e psíquicas, mas que também é marcado por comportamentos específicos, relativos a esse período da vida. Por isso, não é de se estranhar que cada vez mais encontremos pessoas que embora tenham idade e físico de um adulto, apresentem atitudes, comportamentos e pensamentos de adolescente.
O que será que está acontecendo em nossa sociedade? Qual será a razão desse fenômeno conhecido como adolescência estar se estendendo de tal forma no tempo que vemos os jovens “adolescerem”, mas nunca mais saírem dessa posição?

Com a valorização do ensino universitário em detrimento do trabalho técnico, os jovens são, cada vez mais, estimulados a estudar e a dar a importância à formação universitária, o que é claro e evidente, tem seu valor. Entretanto, o processo de uma boa formação universitária é longo e atrasa a entrada do jovem no mundo adulto.

Ele passa mais tempo sob a custódia financeira dos pais e mais tempo com menos responsabilidades, mas nem por isso deixa de viver algumas ou muitas das vantagens e dos prazeres de ser adulto. A questão que fica é: “se posso viver e desfrutar dos meus anos de juventude sem me responsabilizar efetivamente por isso, visto que meus pais estão fazendo isso por mim, porque me interessaria crescer e tornar-me adulto?”.

Além desse aspecto, podemos pensar na dificuldade de alguns pais em ajudarem seus filhos a crescerem e tomarem rumo em suas vidas. Essa dificuldade pode estar relacionada a vários aspectos. Se esses pais puderam crescer individualmente e como casal, puderam fazer suas escolhas e lidar com o saldo positivo ou negativo de suas escolhas, eles terão mais facilidade em colaborar no crescimento dos filhos. Se esses pais estão de bem com suas próprias vidas, e puderam, até então, desfrutá-las, também será mais fácil que se encaminhem nesse sentido com relação aos filhos, deixando-os viverem por si mesmos, respeitando suas escolhas pessoais e usufruindo os ganhos que o crescimento de seus filhos podem trazer ao relacionamento familiar, inclusive.

Entretanto, se esses pais sentem-se frustrados em suas próprias vidas, em seus casamentos, ou em suas escolhas pessoais e profissionais, eles tenderão a tentar viver seus ideais e desejos insatisfeitos por meio dos filhos.

Isso pode acontecer de duas formas: ou eles impõem seus desejos e sonhos aos filhos; ou impedem que esses filhos cresçam de qualquer maneira. Porque se esses filhos crescem e fazem suas próprias vidas, isso leva os pais a questionar o que têm feito de suas vidas até então, e se a resposta encontrada não for agradável, surgirá a necessidade de mudança.

Se os pais se dispõem a viver, a fazer algo por si, ainda que tardiamente, eles podem usar o crescimento dos filhos como espelho para mudanças favoráveis e significativas em suas próprias vidas.

Mas, se esses pais não têm coragem de se olhar e questionar sua própria experiência com muita maturidade, fazer com que esses filhos não cresçam e não saiam de suas casas ou de seus cuidados é uma forma de não questionar o que estão fazendo de suas vidas, e manter a situação no estado em que se encontra, sem os riscos de uma mudança, ainda que estejam totalmente infelizes. Além disso, manter os filhos como pseudo-adolescentes, lhes dá a falsa noção de que não estão envelhecendo, e de que disporiam ainda de muito tempo caso quisessem vir a fazer algo por si mesmos.

A verdade, no entanto, é que o tempo não perdoa. Mesmo que pais e filhos escolham não crescer, a vida passa para todos. Felizes daqueles que, cedo ou tarde, percebem o quão curta é a vida e decidem correr o risco de viver e ir em busca da própria felicidade. Como já dissemos tantas outras vezes, tomar nas mãos as rédeas de sua vida, crescendo e assumindo sua autonomia e as responsabilidades pelas escolhas pessoais é o caminho para se viver melhor e mais feliz.

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

O difícil término dos relacionamentos – Parte II

No último artigo falávamos sobre o quão difícil é terminar um relacionamento ou lidar com o fim dele. Naquela ocasião preferi abordar o tema a partir do ponto de vista daquele que “sofre” a separação, ou seja, aquele que tem de aceitar a decisão do outro de romper a relação.

Pois bem. Neste artigo quero conversar com vocês sobre a não menos difícil situação em que fica aquele que pede a separação.

Ao longo da vida temos de ir fazendo várias escolhas, e decidir por um caminho ao invés de outro nem sempre é tarefa simples, principalmente, quando estamos lidando com as emoções e os sentimentos que temos por uma pessoa.

Como conversávamos anteriormente, se, de um lado, aquele que, mesmo não querendo, tem de aceitar a decisão do outro de se separar, é normalmente visto como vítima da situação; o outro, aquele que pede a separação, é consequentemente, colocado na posição de algoz ou vilão da história.

É muito comum ouvirmos comentários do tipo: “Nossa, coitada(o), ela(e) gosta tanto dele(a) e ele(a) terminou o relacionamento assim, sem mais nem menos”, ou “Mas como ela(e) pôde terminar o casamento com um partido tão bom como ele(a). Ele(a) é tão bom; vai sofrer muito”.

Quantas vezes ouvimos ou nos pegamos falando esse tipo de coisa? Com certeza, se você for honesta, vai considerar que muitas vezes pensou assim, não? Pois bem. Pensemos um pouco sobre o assunto.

Essas figuras “vítima” e “vilão(ã)” vemos muito nas histórias infantis e nos contos de fada, onde encontramos também os personagens do “mocinho” e do “bandido”, ou da “bruxa má” e da “fada madrinha”. Mas, será que quando estamos falando de relacionamento, na vida real, entre duas pessoas adultas, livres e desimpedidas, com capacidade de escolha e decisão, podemos pensar nessas figurações? Não seria mais justo e mais realístico pensarmos que cada pessoa é livre para decidir o que acontece em sua vida e, principalmente, responsável por aquilo que lhe acontece?

Nas histórias infantis, o vilão é sempre visto como o total responsável pelo sofrimento da vítima. É como se a vítima ocupasse o lugar do bem, da inocência, da fragilidade; e o vilão, o lugar do mal, da esperteza, da força. Isso mostra uma cisão, uma separação de elementos que existem juntos em qualquer um de nós, e que, na verdade, compõem a riqueza e a ambivalência de emoções presentes no ser humano.

Toda pessoa tem dentro de si a bondade e a maldade, a inocência e a esperteza, a fragilidade e a força.

Entretanto, vai depender de cada pessoa o modo como ela vai lidar internamente com essas características ao longo da vida. Há quem escolha negar dentro de si suas potencialidades e, consequentemente, a responsabilidade pelo que lhe sucede na vida.

Normalmente, quem fica no lugar de vítima das situações, o famoso “coitado” ou “coitada”, é alguém que, ao contrário do que se possa imaginar, tem dentro de si a força e a inteligência, mas que, negando suas potencialidades, decide, ainda que seja inconscientemente, entregar essa potência nas mãos do outro. É aí que o outro entra, às vezes sem perceber, no lugar de algoz e vemos, mais uma vez, a vida imitando a arte.

O fato é que as pessoas não gostam muito de se responsabilizar. É mais fácil e mais cômodo, por um lado, você colocar a culpa pelo que lhe acontece em alguém ou em algum acontecimento externo a você. E é exatamente o que acontece quando aquele que pede o fim de uma relação, ou que simplesmente a declara – porque muitas vezes a relação já acabou há muito tempo – é colocado no lugar de vilão e malfeitor da história.

Toda decisão tem consequências. Não é mesmo fácil tomar determinadas decisões na vida, principalmente quando essas decisões envolvem os sentimentos de outra pessoa, ou de muitas pessoas juntas, como no caso do fim de um casamento, ainda mais quando se têm filhos no meio. Mas, ser adulto no mundo, implica em se responsabilizar pela sua vida, e isso, eventualmente, causa reflexos na vida dos outros com quem você se relaciona. E “reflexos”, “consequências”, e “responsabilidade” são coisas diferentes de “culpa”.

Assim, aquele que decide, seja lá qual for a razão, terminar um relacionamento ou um casamento, não é culpado pelo “mal” que está causando à outra pessoa, ou à família e aos filhos, porque não há “mal” nessa história. O que acontece é que mudanças vão advir dessa escolha, e nesse sentido, aquele que opta pelo término é apenas e tão-somente responsável por essas mudanças. E a responsabilidade, nesse caso, é tanto dele quanto do outro que “sofre” a decisão do término.

Essa não é uma tarefa fácil, porque temos dificuldade em aceitar que somos responsáveis pelo fracasso de alguma coisa em nossas vidas. Gostamos de ser responsáveis por um bom relacionamento que se inicia, ou por algo que dá certo em nossas vidas, mas não gostamos nem um pouco de assumir que fracassamos. Quando um relacionamento termina, o fracasso fica evidente. E quanto mais dificuldade essa pessoa tiver para lidar com os fracassos de sua vida, as perdas, os limites e os “nãos”, mais ela vai sofrer tomada de vergonha e de culpa. Consequência disso é que, se ela não aguentar essa culpa e essa vergonha, lhe cairá muito bem arrumar um lugar de vítima e um vilão para responsabilizar pelo seu sofrimento.

Entender que a vida é feita de altos e baixos, de “sim” e “não”, de momentos bons e de momentos difíceis, faz com que a pessoa tenha amadurecimento e possibilidade de conter dentro de si essas experiências e transformá-las.

Quando um relacionamento não der certo em sua vida, melhor do que procurar “culpados”, é entender a situação como mais uma tentativa sua, e do outro, de fazer um relacionamento dar certo, mas, que, infelizmente, ainda não deu. Se assumir a sua parcela de responsabilidade pelo ocorrido, poderá refletir sobre o que levar da situação como aprendizado para que, numa próxima relação, você esteja mais forte, inteiro e com melhor capacidade de escolha e discernimento. Lembre-se que as boas relações não são só feitas de amor e paixão, mas, também de muita inteligência e sabedoria.

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.

O difícil término dos relacionamentos

É sempre difícil de se lidar com o término de um relacionamento. Várias são as questões envolvidas. Raramente as duas pessoas do par têm certeza de que querem se separar, e sentem-se livres e desimpedidas para fazer isso, tranquilamente.

Mesmo que o relacionamento já não esteja indo bem, há algum tempo, em geral, um deles é que traz a questão à tona, seja porque percebe melhor o que está acontecendo, seja porque não consegue mais levar adiante uma relação que lhe parece insustentável. E o outro, pego de surpresa, ou não, fica completamente atordoado, sem saber o que fazer.

O começo de um relacionamento é sempre gostoso. Há muita novidade, alegria, e também, muita paixão encobertando os problemas e defeitos de cada um. Quando terminamos um relacionamento, temos de lidar com o nosso fracasso, pois em última análise, somos sim, em parte, responsáveis pelo desenrolar daquela relação, ainda que não quiséssemos esse final.

Se aquele que pede a separação, ou o término, sofre de um lado porque carrega com ele o peso da responsabilidade pela situação, e muitas vezes é apontado como o causador do “mal”, o outro sofre, também, a seu modo, seja porque ainda gosta do outro, seja porque ainda não consegue encarar que aquela relação acabou.
É sobre quem está nessa segunda situação que aqui quero falar.

Quando somos pegos pelo pedido de separação ou de término do outro, nos fazemos as fatídicas perguntas: Por quê comigo? O que eu fiz de errado? E essas perguntas soam, muitas vezes, como verdadeiras bombas caindo sobre nossas cabeças. Já estamos fragilizados emocionalmente, e ainda temos de arcar com as consequências da separação.

Estávamos acostumados a ter aquela pessoa para dividir nossos assuntos, nossas alegrias e nossas tristezas, e de repente, essa tristeza, especificamente, não podemos mais dividir com ela, porque a outra pessoa é parte e “causa” dessa tristeza. Coloco a palavra “causa” entre aspas, porque não acredito que um outro possa ser causador direto de nenhum mal a alguém, em se tratando de sentimentos e emoções.

Ninguém deixa de gostar de uma pessoa porque quer, nem decide isso do dia para a noite. O “desgostar” de alguém leva um tempo para acontecer. E normalmente temos dificuldade de encarar nossa responsabilidade quando o outro deixa de nos amar. Só ele é o vilão porque não nos ama mais.

O fato é que, se o relacionamento acabou, é melhor para nós se conseguimos encarar essa realidade o quanto antes, para que possamos colocar um ponto final nessa etapa de nossa história e partir para outra. Só que isso também não é tão simples. Primeiro, porque nós também vamos agora ter que ter um tempo para desgostar do outro. Por mais que nosso racional nos mostre que não há a menor chance de o relacionamento continuar a existir, nosso emocional precisa do tempo para elaborar o luto pela perda do ente amado.

E esse processo não é nada fácil. Várias pessoas passam anos sofrendo pelo término de uma relação que se acabou, já, há muito tempo. Mesmo que às vezes se apaixonem por outra pessoa, aquele relacionamento fica como uma marca na vida dela, e a impede, muitas vezes, de seguir em frente ou de viver plenamente um relacionamento com uma nova pessoa.

Esquecer um relacionamento que já acabou envolve várias questões, e aqui vou citar algumas delas que me vêm à lembrança agora.

Primeiramente, existe a questão do quanto idealizamos o outro, colocando nele várias qualidades, que muitas vezes ele não tem, mas, por imaginarmos que tem, fica difícil de abandonarmos o sonho da pessoa perfeita para nós.

Outra questão é a do quanto investimos naquela relação, naquele sonho de amor, e mesmo sabendo que ela não existe mais, não queremos abrir mão depois de tanto investimento. Podemos comparar essa situação com alguém que aplica seu dinheiro na bolsa de valores, sofre uma perda, e mesmo sabendo que já perdeu seu dinheiro, fica tentando manter a mesma posição, esperando que a bolsa volte a subir e que ele recupere o valor investido.

Ainda há também a questão do quanto é difícil, e aqui falo principalmente dos homens, colocar um ponto final no relacionamento. Os homens têm mais dificuldade nesse aspecto, pensam que vão magoar a mulher e temem não conseguir lidar com a decepção que vão causar a elas. Nesses casos, tendem a ficar enrolando, dizem que talvez não seja o momento, ou que estão confusos (e às vezes estão mesmo!).

O fato é que não conseguem dizer aquele NÃO enorme que muitas vezes é necessário para um término de um relacionamento.

E, por último, há aquela questão de que “mulher não ama, mulher cisma”. É claro que mulher ama sim, e muito, mas há muitas mulheres que enquanto acham que estão amando, na verdade, estão é numa cisma danada com aquela pessoa. Sofrem, choram, passam anos relembrando situações que muitas vezes nem aconteceram daquela forma, mas que com nossa capacidade imaginativa, fazem maravilhas, transformando o passado em flores. Nesses casos não há amor, há cisma. Precisamos ter primeiro, o amor verdadeiro por nós mesmas, para depois sabermos amar o outro. Alguém que não está mais sendo amada, e insiste ainda no sonho fracassado, mostra que não está se amando; se não se ama, provavelmente não sabe o que é o amor, e não pode amar um outro.

Enfim, são muitas as implicações que envolvem o término de uma relação. Fica impossível esgotar esse assunto em um só artigo. Mas, espero que essas questões aqui levantadas, possam ajudar as pessoas envolvidas nesse tipo de situação, a refletirem um pouco mais sobre seu comportamento, e que, ampliando a consciência, possam ter seu sofrimento, pelo menos em parte, minimizado.

*Ana Claudia Ferreira de Oliveira é Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Psicanalista em São Paulo.